De volta ao essencial.

Sul da Bahia, o solo onde queremos rebrotar.

Quando chegamos ao sul da Bahia, o dia já se despedia, sem pressa. Nos rostos, exibíamos orgulhosos nossos óculos inspirados naquele jeito de viver e no coração carregávamos apenas o desejo de sentir aquele lugar.

Não foi uma viagem de turista como tantas outras que fizemos. Fomos buscar mais do que areia, sol, sombra e água de côco fresca (embora tenhamos curtido isso também). Fomos investigar a vida que se leva por ali e tentar respostas para questões básicas:  a infraestrutura do lugar nos permite viver e trabalhar? Por que nossos corações teimam em querer rebrotar aqui entre tantas e tantas outras possibilidades?

Sim, a infraestrutura funciona. Água, energia elétrica, telefonia móvel. Está tudo lá, exatamente como em uma grande cidade, inclusive com as deficiências.

 Talvez a grande diferença esteja na forma como as pessoas lidam com as falhas. Na grande cidade, quando as conexões com a rede nos deixam na mão ou o abastecimento de água é interrompido, esbravejamos, ofendemos até a quarta geração das empresas e ficamos de mau humor. Nas pequenas cidades do sul da Bahia, pede-se ajuda ao vizinho do lado, de cima ou de baixo. E se ainda assim não é possível resolver o problema, nada que um bom papo na calçada não ajude a passar o tempo. Ah… o tempo.

O transporte funciona. Incrivelmente. O acesso do aeroporto de Porto Seguro à balsa que nos leva às cidades mais ao norte é rápido. As balsas são frequentes e a travessia do rio não dura mais que 15 minutos. Ônibus, vans e taxis esperam do outro lado. Os ônibus ainda mantém uma figura que desapareceu das grandes cidades: o cobrador.

Aquele funcionário que vai de assento em assento cobrando, emitindo a passagem e trocando um dedo de prosa sobre o clima, ou outra coisa que se queira conversar. Na grande cidade, dispomos de muito mais alternativas, mas ainda assim, chegar ao destino tornou-se o primeiro e grande desafio do dia. No sul da Bahia, se tudo falhar, ainda sobram as motos, as bicicletas e os cavalos. E se ainda não der, caminhadas incríveis pela praia podem resolver. Basta um pouco mais de tempo. E de novo…o tempo.

Claro que fomos passear nos supermercados. Tem tudo! E em algumas lojas especiais, produtos especiais do mundo todo. Tem até o o famoso pepino em conserva alemão. Mas o melhor fica fora das prateleiras. São os hortifrutigranjeiros naturais e orgânicos de pequenos produtores que podem, tranquilamente, ser o seu vizinho.

E ainda visitamos as imobiliárias para briefarmos os profissionais de nossa principal exigência para a moradia e para a instalação da oficina de óculos: um bom espaço para a rede.

E conhecemos a melhor marcenaria do lugar e fomos apresentados a outros recursos naturais, potencialmente novas possibilidades de materiais para desenvolvimento de novos óculos e outros objetos.

Entre o que alguns poderiam chamar de deficiências e as delícias da região, ficamos seguramente com as delícias expressas em cada rosto da gente que cruzamos e falamos. Existe um multiculturalismo incrível na região. Pessoas de vários lugares do Brasil e do mundo se juntam aqui. O resultado é uma mistura de sotaques e de jeitos de fazer e viver que explode em uma energia contagiante. E talvez esteja aqui a resposta pra uma das nossas perguntas essenciais no início da viagem: o que existe aqui de tão especial que nos atrai e nos convida? Existe algo em comum em torno dessa maioria tão diversa. Elas escolheram estar aqui! Uma escolha essencial neste universo quase infinito de tempo e espaço.

OBS: nossos óculos, resultado da inspiração deste lugar, ganharam vida no rosto das pessoas daqui e ficaram. Eles pertencem a este lugar e são nossa primeira semente deixada no solo onde queremos rebrotar.